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ANSEIO

Esta noite, antes de me entregar ao sono, tentei me entregar a um desejo que jaz distante. Sempre tento despertá-lo com violência, submissão, voracidade. 


E às vezes, para o fazer, tento me lembrar de você, de como estava disposta nos nossos encontros secretos a me entregar ao sabor e ao suor da carne, ao desejo sedicioso de exercer o papel da rendida, de dobrar os joelhos, de ser levada por aquela força que se transformava em um desejo descomunal quando você se afundava em mim.


Bem, mais de mim do que de você. 

Porque era meu hedonismo que importava. 

Era meu ímpeto que nos levava adiante. 


Por mais que sempre implorasse docemente um por favor e por favor e mais um por favor com a intenção de que eu lhe rogasse para que me desse seus desejos, ao fim e ao cabo, eram apenas palavras usadas para lhe instruir sobre minhas ânsias. 

Tentava construir em você o personagem concebido em minha cabeça e para isso me parecia que lhe dar essa ilusão de poder era mais fácil para alguém que sempre sonha com ele.

 

Ainda que fosse eu quem dominava, desejava constantemente que você espancasse a minha carne para libertar das formas mais sórdidas, meu ser.


E já misturados em delírios uivando no campo sem vizinhos, esquecia as penas diurnas e me tornava em seu succubus.


Agora separados por anos e países, nos resta pouca memória, muita saudade, algum ou outro objeto quebrado pela loucura que nos remete àqueles dias. 

Esta noite, me pego rogando baixinho, com os olhos fechados, suspirando outra vez ao silêncio do meu quarto.


Por favor

Por favor

Por favor


E em fugazes cenas retrospectivas, vou implorando para que aquele desejo me convide novamente a atravessar a vida de alguém como atravessei a sua.


Me toca, me lambe, me morde, invade meu corpo até que minha alma seja expurgada para dentro de você, sobre você, sobre o universo. 


Anseio pelo desejo, aquele desejo no bar, nas ruas desertas, na estrada, no seu carro, no seu campo, na sua piscina, nos seus braços, no seu fôlego quente ao pé do meu ouvido, no seu sexo. 

Anseio por aquele desejo como força motriz.


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Brunna Lopes