
Abel Azcona foi abandonado à nascença pela mãe, Isabel Gómez Aranda, na clínica onde o deu à luz, por incapacidade para o criar e falta de apoios. No passado dia 1 de abril, dia do seu 37º aniversário, conheceram-se através de uma performance no Círculo de Belas Artes de Madrid, durante a qual estiveram uma hora em silêncio, de mãos dadas.
O reencontro, que segundo Azcona não foi "com a mãe que me abandonou", mas sim "com aquela que me veio buscar", centrou a atenção na violência patriarcal sofrida por ambos, que a obrigou a parir após várias tentativas de aborto, sem desejo nem condições para o fazer, e a ele a nascer, destinando-o a uma vida de abandono, abuso e solidão.
A performance foi um ato de resistência contra a violência estrutural do sistema patriarcal, pois "o abandono de Abel não é apenas uma decisão individual, mas sim uma consequência de um sistema que atira as mulheres para uma vulnerabilidade extrema", segundo a curadora Semíramis González. Este sistema afecta também a infância e os corpos masculinos que crescem "na fragilidade de uma sociedade onde o masculino tóxico é a norma".
A obra artística de Azcona reflete frequentemente sobre o direito a não nascer e o aborto como "uma medida de proteção da infância", como o próprio afirma, tendo já por diversas vezes declarado desejar não ter nascido.