aviso autorias anteriores idioma índice
pendular
ENTRAVE

Tenho medo. É noite, estou sozinha em um país que não é o meu. Uma sensação de ansiedade quer tomar conta do meu corpo. Não fecho os olhos, mas de dentro da minha cabeça vejo meu corpo em espasmos de ansiedade. Movimentos sem começo ou fim agitam o meu ser para além da minha mente. Lembro da cicatriz no meio do meu torso e de como quero cada vez mais me afastar da mulher que a fez, mas ainda sinto como se a ansiedade beirasse a minha porta e quisesse novamente esconder-se em meio a um caos que desejo suprimir.


Quando penso, penso longe. Não consigo me aproximar de mim para atender minhas necessidades e conciliar o meu eu lírico ao meu eu presente nessa realidade. Quando não penso, sou só vazio e contemplação. Sou o ar lento e suave movendo as folhas das árvores em noites calmas e silenciosas.

Sempre soube que há duas de mim. Sempre souberam que há duas de mim. Sempre foi discórdia.


Tenho medo. E receio. Tenho vontade de chorar um choro de criança que não sabe onde está. 

Sinto que preciso de companhia mas que a que preciso é indomável demais para estar aqui comigo agora. Ainda não sei como convencer-me a estar presente sem provocar destruição e sentir plenitude no que ainda é confusão. 

Quero amigos, quero amor. Quero ser capaz de me alegrar em outros seres e de dividir a contemplação.

Sinto que cheguei até aqui pela benção do acaso que não me deixou destruir tudo. TUDO. 

Pelo milagre, eu sobrevivi, por mim viverei.


Tenho medo porque não sei ser. Vivi em maior grau não querendo viver. Quando pude morrer, decidi viver, mas ainda não sei ser.


Não há um final, uma lição de moral, uma frase de incentivo.


Estou no meio do caminho desta vida. 


Perdida.


Há esperança.

Partilhar
Brunna Lopes